Mostraram-se
promissores os primeiros estudos com o emprego de óleos funcionais como aditivo
alimentar no ambiente ruminal, em dietas de confinamento, sob condições menos
adversas. O trabalho foi realizado pelo Instituto de
Zootecnia (IZ), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo, com apoio da Fapesp, e teve como um de seus objetivos atender ao
consumidor que espera adquirir alimentos mais seguros, completos, baratos e
ambientalmente corretos.
“A
sustentabilidade ambiental se tornou uma exigência e, cada vez mais, o mundo se
conscientiza sobre a necessidade de garanti-la enquanto se produz alimento”,
ressaltou a diretora do IZ Renata Helena Branco Arnandes, coordenadora do
projeto da mestranda do IZ, Laura Branco Toseti.
O foco do trabalho foi estabelecer o nível mínimo
adequado de fibra proveniente da forragem com a adição de óleo funcional,
substituindo a monensina, para avaliar o desempenho, eficiência animal,
comportamento ingestivo (base para o manejo sustentável), digestibilidade,
características de carcaça, seletividade de partículas, emissão de metano
entérico, saúde ruminal e qualidade da carne.
“Todos estes fatos têm estimulado a busca por novas
tecnologias e produtos alternativos para controle específico de populações
microbianas, e os óleos funcionais tem sido uma alternativa natural com
características que demonstram potencial de modulação da fermentação ruminal,
podendo promover melhor desempenho animal”, ressaltou a diretora do IZ.
Segundo Renata, a pecuária de corte no Brasil ainda
está em busca de melhores índices em termos de produtividade e sustentabilidade
do rebanho. “Como a produção intensiva de carne exige o abate precoce dos
animais, são necessárias melhorias genéticas no rebanho, acompanhadas do
fornecimento de dietas mais elaboradas e com alto teor de concentrado”,
enfatizou.
Com o uso de dietas de alto grão, cada vez mais
consagrados, cresce a demanda por outras formas de melhoria do manejo dos
animais, em busca de incrementos de produtividade e um dos meios para conseguir
é com a utilização de aditivos.
“Porém, até mesmo, os mecanismos de ação dos ionóforos
ainda não foram completamente elucidados. E a utilização consagrada dos
ionóforos tem sofrido críticas quanto à possibilidade de gerar microrganismos
patogênicos resistentes a antibióticos utilizados na medicina humana”, detalhou
Renata.
De maneira geral, os grãos de cereais representam a
principal fonte de energia em rações de bovinos de corte terminados em
confinamento. Assim, rações com teores mais altos de grãos propiciam ganho de peso mais rápido, melhor
conversão alimentar, carcaças com melhor acabamento, rendimento e menores
custos operacionais no confinamento, podendo tornar a atividade mais rentável.
Renata explicou, no entanto, que certa quantidade
de forragem é incluída na grande maioria das dietas de confinamento por duas
razões importantes – para minimizar os riscos de acidose e estimular o consumo
dos animais.
“Precisamos buscar o cenário ideal para a pecuária
brasileira, com sustentabilidade e saudabilidade dos alimentos”, enfatizou o
secretário da Agricultura, Arnaldo Jardim, ao refletir sobre desafios da
pecuária para soluções tecnológicas e mercadológicas expostas pelas metas do
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para manter uma pecuária eficiente e
atender à sociedade com alimentos mais nutritivos.
Resultados
No trabalho, avaliou-se a FDN (fibra em detergente
neutra) com adição de óleo funcional como alternativa à monensina – aditivo incluído em dietas de
terminação para Bos taurus indicus. O volumoso
utilizado foi feno de braquiária e o concentrado de grão de milho moído, polpa
cítrica, farelo de soja e sal mineral.
O experimento realizado durante 105 dias, com 70
machos Nelore não castrados, com peso inicial médio de 408 kg, foram
distribuídos em sete tratamentos de acordo com a dieta avaliada, cerca de dez
animais por tratamento.
As dietas utilizadas consistiram em óleo funcional,
utilizando 500mg/kg de matéria seca (MS), que é uma mistura de óleo de mamona e
líquido da casca da castanha de caju ou monensina (30mg/kg MS) como aditivos,
três teores de FDNf (6; 9 e 15% na MS) e um tratamento controle sem a adição de
aditivo (15% FDNf - fibra em detergente neutro
forrageiro).
Os valores encontrados para índice de rumenites
foram muito baixos para todos os tratamentos, não ultrapassando 1,65 pontos,
demonstrando que tanto o uso dos aditivos quanto os níveis testados de FDNf
foram eficientes em prevenir a incidência desse distúrbio.
A pesquisadora esclareceu que os baixos níveis de
fibra oriundos da forragem podem ser utilizados em dietas de terminação sem
prejudicar o desempenho animal e saúde ruminal, “promovendo os mesmos
benefícios para eficiência alimentar que a máxima inclusão de fibras testadas
neste estudo”.
O peso de carcaça quente e rendimento de carcaça
não diferiram entre os tratamentos, evidenciando que o uso do óleo funcional
aumenta a eficiência de deposição de carcaça.
Os níveis de FDNf não influenciaram nas
características de carcaças analisadas. E o óleo funcional contribuiu ainda
para redução de emissão de metano entérico.
O emprego de óleos funcionais como aditivo alimentar
em dietas de confinamento, em condições menos adversas ao ambiente ruminal,
mostrou-se promissor, porém é necessário, ainda, mais investigações sobre a
degradabilidade e digestibilidade dos alimentos, diminuindo as perdas
energéticas.
Os extratos vegetais estão entre os principais
produtos destinados a substituição dos antibióticos tradicionalmente
utilizados, devido à presença de diversos componentes químicos, dentre eles os
óleos funcionais, saponinas, sustâncias picantes e amargas, mucilagens,
flavonóides, entre outros.
Dentre os possíveis mecanismos de ação dos extratos
vegetais no organismo animal, estão a estimulação da digestão, alterações na
microbiologia ruminal, aumento na digestibilidade e absorção de nutrientes.
Porém, existem poucas informações sobre o uso desses extratos no desempenho
produtivo de bovino.
“No Brasil, são escassos os trabalhos sobre nível
de forragem em dietas de confinamento, sobre dietas com milho grão inteiro e
sobre dietas ricas em co-produtos fibrosos com níveis mínimos ou nulos de
volumosos, por isso, o produtor deve tomar cuidados com relação aos níveis de
fibra necessários para a saúde ruminal de bovinos em terminação”, destacou
Renata.
Mais de 72% dos animais confinados no Brasil são
Nelore ou de origem zebuína, e, conforme explicou a pesquisadora, devido a
insuficiente informação nas literaturas quanto aos zebuínos e os níveis
adequados de FDNf (FDN oriundo da forragem) em dietas de terminação, “torna-se
importante averiguar qual o teor necessário de fibra na dieta para proporcionar
melhor desempenho e menores perdas energéticas”.
Fibras e aditivos
Os alimentos volumosos – forrageiras e gramíneas –
possuem uma série de características importantes para os animais, são alimentos
ricos em fibra, como a FDN (fibra em detergente neutra) com alto poder de
digestibilidade. É a fibra destes alimentos que assegura o processo de
mastigação e ruminação (fibra de forragem), ajuda a garantir uma melhor saúde
ruminal, é proteico e rico em potássio, principalmente, quando oferecidos
frescos ou colhidos no estágio vegetativo. Além de ser um alimento barato
quando produzido na fazenda.
É crescente o uso de dietas com elevadas inclusões
de grãos em confinamentos brasileiros no intuito de melhorar a eficiência,
principalmente em razão das forragens apresentarem maior custo por unidade de
energia digestível quando comparadas aos grãos.
A redução da oferta e o baixo valor nutricional das
gramíneas no período de estiagem comprometem o desempenho dos animais e eleva a
taxa de emissão de metano decorrente da fermentação entérica, um fator
preocupante do ponto de vista ambiental nos dias atuais.
Os aditivos ionóforos são utilizados para melhorar
a eficiência de produção animal, melhorando a conversão alimentar, e atuando na
produção de ácidos graxos voláteis.
Mas a aversão quanto ao uso de antibióticos como a
monensina sódica na produção de carnes se tornou relevante nos últimos anos,
pois pode representar uma significativa via de resistência bacteriana nos
humanos que consomem tais produtos.
A segurança de antibióticos, como os ionóforos, é
constantemente questionada devido à possível relação destes com a resistência
de bactérias, além da possibilidade de deposição de resíduos na carne ou no
leite. Esses fatores levaram a proibições ou restrições ao uso desses aditivos
na alimentação animal em alguns países.
Assim, novas alternativas de aditivos
antimicrobianos que apresentam resultados satisfatórios no desempenho animal e
que vinculem a imagem de produto saudável e natural estão sendo alvos de várias
pesquisas.
Demanda por alimentos
De acordo com levantamentos da Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a demanda mundial por
alimentos deve aumentar em 100% até 2050, impulsionada pelo aumento da
população mundial para mais de nove bilhões de pessoas e pelo crescimento
econômico, principalmente da China, Índia, Europa Oriental e América Latina.
Cerca de 20% da demanda por alimentos serão supridos pela expansão da fronteira
agrícola e outros 10% poderão vir do aumento do número de safras agrícolas. Já
os 70% serão originários do uso de tecnologia eficientes.
“Assim, a redução da idade de abate e a maior
produtividade por área são fundamentais para possibilitar o aumento da
disponibilidade da carne bovina sem promover aumento proporcional no impacto
ambiental gerado pela atividade”, destacou a pesquisadora.
Para acompanhar a demanda mundial de carne bovina,
o confinamento tornou-se uma ferramenta indispensável para alguns produtores
que buscam produtividade, volume e padronização do produto. Segundo Renata, o
custo da alimentação nesse sistema pode superar 70% do total das despesas.
“Neste sentido, potencializar o consumo e o aproveitamento de nutrientes se
tornou fundamental para manter-se no mercado produtivo.”
Por Lisley Silvério
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